‘A Ferroviária tem a oportunidade de buscar melhores práticas de gestão, baseadas em responsabilidade corporativa, transparência, equidade e prestação de contas, com vistas a retomar o caminho da sustentabilidade da instituição (…). Com respeito ao passado, a Ferroviária se reorganiza para ter sucesso no futuro.’
Esse é o trecho final da Nota Oficial que a diretoria emitiu ontem (02), informando a transformação da Ferroviária SA em SAF. Pois bem, a transparência tem que ter início já!
Barriga de aluguel
O meio-campo Vinícius Zanocelo, segundo portais da capital, interessa ao Palmeiras. Ele é jogador do Santos, emprestado pela Ferroviária. No caso de uma transação, com quanto a Ferroviária fica?
A resposta é objetiva: muito pouco ou nada perto do tamanho da transação – Zanocelo é avaliado em R$ 11 milhões, podendo custar até R$ 25,7 milhões, caso mantenha a boa fase.
Vejamos: em janeiro do ano passado, quando a Ferroviária o contratou da Ponte Preta, o aporte girou em R$ 2 milhões de reais e foi feito pelo empresário Giuliano Bertolucci.
Porque ele, Bertolucci, numa possível venda (para Palmeiras ou Europa – que é o que acredito), não teria direito ao capital valorizado investido?
Lembrando que o acordo entre Santos e Ferroviária prevê a compra de 60% dos direitos econômicos por 2 milhões de euros. O restante ficaria para a Ferroviária. É preciso responsabilidade e transparência nesse momento para dizer se a Ferroviária ficaria mesmo com os 40%.
E é justo que fique com algo, afinal o jogador usou a vitrine grená no Paulistão para se valorizar. Qual seria esse valor-porcentagem, então?
Este colunista já havia levantado essa questão no último dia 20 de maio, na postagem ‘O Segredo de Zanocelo’. Leia, é esclarecedor.
Como também é esclarecedor o documento a que tivemos acesso que mostra, entre os conselheiros da Ferroviária, Filippo Vilella Duarte Bertolucci. O filho de Bertolucci é do Conselho Administrativo da Ferroviária.
Como o Conselho, órgão fiscalizador por natureza, irá fiscalizar a transação do clube com um empresário, ainda mais sendo ele seu pai?
O mesmo documento nos mostra que o vice-presidente da Ferroviária segue sendo Enio Rodrigues, que é, aliás, um excelente profissional.
Mas é remanescente da Know-How, empresa ligada ao empresário Luizinho Cai-Cai,um dos alvos investigados nesta semana, numa operação contra fraude fiscal e sonegação no setor tabagista.
Será que estes dois membros da Diretoria estão alinhados com o novo propósito do clube?
Estrella Galícia
Muitos leitores e torcedores da Ferroviária estão me dizendo que a Estrella Galicia é apenas uma das empresas que fariam parte de uma grande holding que vai gerir a Ferroviária.
Sim, com a transformação em SAF, é natural que se busque outros investidores no mercado de ações. É a prática comum das SAFs.
Numa holding, a empresa matriz pode adquirir a participação no capital de outras empresas, tornando-se sócia majoritária com 51% das ações ou até menos, quando há vários investidores.
Na prática, isso significa a possibilidade de ampliar os negócios, com um menor investimento. É isso que a Estrella Galícia está fazendo, simples assim.
O nome oficial que vai chegar não tem importância. Temos o exemplo claro da MS Sports, em que todos sabem que o investidor é Saul Klein.
O mesmo se dará com a Estrella Galícia. É provável que se anuncie o nome de uma organização européia, mas a marca da Estrella Galícia seguirá não só na camisa, bem como no controle do clube.
Não fosse assim, em novembro do ano passado, o CEO global da Estrella Galicia, Ignacio Rivera, não iria conferir a própria Fonte Luminosa:
“Encontramos na cidade uma quantidade e qualidade de água que vai nos permitir fazer uma cerveja de altíssima nível”, afirmou quando anunciou a fábrica.
E foi claro o interesse da Ferroviária em ampliar a relação com a cervejaria, que já patrocina o futebol feminino. O espanhol Rivera, dono da Estrella Galícia, encantou-se não só com a água da Fonte, mas também com a Arena da Fonte, creiam!
Em tempo: de acordo com o portal RCIA, a holding é a Elite Administracion y Gestion, uma gestora de diversas empresas e faz parte do grupo Hijos de Rivera, que tem como presidente executivo, Ignacio Rivera, o mesmo da Estrella Galícia.
Exatamente o que dissemos! Se uma crinça de 12 anos procurar no google os nomes acima, vai entender a operação.!
Facilidades
O Prefeito de Araraquara ofereceu isenção de taxas e tributos, principalmente os vinculadas à construção da planta à Estrella Galícia. A contrapartida é a Ferroviária, o esporte, terreno que a cervejaria gosta de se movimentar.
A companhia já patrocinou o piloto espanhol de Fórmula 1 Carlos Sainz Jr na McLaren Racing e, desde 2021, o patrocina na Ferrari.
Além disso, no futebol, patrocinou o Celta de Vigo e o Deportivo La Coruña. Atualmente patrocina o Racing Club Ferrol, que disputa a terceira divisão e – atenção: parece haver conversas com um dirigente dessa equipe para vir à Ferroviária – e também o Real Valladolid, time de Ronaldo, que voltou à primeira divisão recentemente.
Pra quem gosta de curiosidade, a empresa também patrocina a conhecida série Netflix La Casa de Papel .
No Brasil, a cervejaria já patrocinou o Corinthians no masculino e feminino. Atualmente patrocina a Portuguesa e promete investir ainda mais no time de Sérgio Soares, que também retornou à primeira divisão.
Os espanhóis estão vibrando com o futebol!
Os 40 mil leitores
Nos últimos 90 dias este blog alcançou quarenta mil leitores na internet. O número é de domínio público, fornecido pelo google analytics.
Isto reforça a responsabilidade deste colunista com toda essa gente, e também com as mais de 15 empresas sólidas, patrocinadoras da plataforma.
Por isso tudo, penso que quando o presidente da Ferroviária concede uma entrevista exclusiva (aos Campeões da Bola, na Rádio Cultura, sob o comando da minha sempre-referência José Roberto Fernandes) e diz que a Ferroviária não recebeu proposta de clube nenhum para negociação de Zanocelo, além de outros devaneios, como afirmar categoricamente que o elenco atual é muito qualificado, ele peca por não contar todo o histórico dito nesta coluna.
Aliás, uma característica de sua administração. Falta contexto no texto. As falas são truncadas e evasivas.
Faltou, sobretudo, congruência com sua própria Nota Oficial, aquela que abre esse post: ‘responsabilidade, transparência e equidade. Para ter sucesso no futuro’.
Faltou, por fim, atenção aos 40 mil leitores deste blog. Eles existem, de verdade. E estão por toda a parte.
(atualizado às 12:00)