A Ferroviária tem praticado um futebol medíocre neste campeonato paulista. O técnico Elano Blummer, em início de carreira, parece gostar de um tipo de futebol oposto ao que ele praticava como jogador: vertical, articulado, com rápidas trocas de passes e chegadas ao gol. A Ferroviária de hoje não é nada disso. É uma equipe desorganizada que joga para não perder.
E é assim desde o início do campeonato paulista. E veja: o treinador participou do processo de todas as contratações. Porque não coloca um meia para jogar? Como a bola vai chegar ao atacante Bruno Mezenga, que foi artilheiro do campeonato no ano passado com 9 gols e, até este momento, só marcou 2?
E não há ninguém da diretoria que possa cobrar o treinador? Elano parece mandar e desmandar no clube. O investidor – que chegou em 2019 – sumiu. Deixou promessas como colocar a Ferroviária na série A do campeonato brasileiro em 5 anos, entre outras coisas. O fato é que seguimos na série D sem perspectiva de sair dela.
E, se permanecermos na primeira divisão do campeonato paulista, vai ser porque Novorizontino e Ponte Preta conseguiram ser ainda piores, e não por mérito nosso.
Digo nosso porque apesar de uma empresa de capital privado, a Ferroviária mexe com a paixão pública desde que foi fundada, em 1950, pelos ferroviários. Sabemos que ela é a embaixatriz da cidade, como muitos gostam de dizer.
Agora, o trem saiu dos trilhos.
Hoje, 92% das ações da Ferroviária pertencem ao majoritário Saul Klein ou à MS Sports, braço-empresarial dele. Há tempos o herdeiro das Casas Bahia quer vender suas ações. As informações são de que há mais de 6 meses ele manifestou a pessoas de seu círculo mais próximo este desejo. Klein anunciou em dezembro de 2020 que se afastaria temporariamente do Comitê Gestor de Futebol da Ferroviária para responder às acusações de estupro e aliciamento feitas por várias mulheres.
Há uma articulação de bastidores para que a Estrella Galícia compre as ações e seja a nova dona. Para isso, Saul Klein transformaria a Ferroviária S/A numa SAF – Sociedade Anônima do Futebol. A grande diferença é que a SAF tem uma tributação mais vantajosa, além de possuir maior transparência, com regras claras de governança e com fiscalização, o que deixa o negócio mais interessante e seguro para os investidores.
A demora da negociação pode estar ocorrendo justamente aí. Saul Klein fez parcerias com vários empresários, entre eles Giuliano Bertolucci. E ainda há uma indefinição sobre o ativo (entende-se jogadores) colocado por esses empresários na Ferroviária. Ou seja, há alguma divergência entre Klein e Bertolucci e até que seja resolvida o negócio emperra.
Por outro lado, a cervejaria estaria disposta a pagar pelas ações de Klein. Os espanhóis já são patrocinadores da Ferroviária e usariam o futebol como mais uma fonte de divulgação já que investirão pesado no mercado brasileiro. A empresa vai construir a maior fábrica de cervejas do Brasil justamente em Araraquara. Será também a primeira fora da Espanha, com um investimento de aproximadamente R$ 2 bilhões. O presidente da cervejaria espanhola já esteve, inclusive, na cidade, onde assistiu um jogo.
Enquanto tudo isso ocorre, fora de campo, o time de Elano despenca na tabela e, se cair, pode também por tudo a perder.
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