Dedicação, superação e emoção: conheça a história da atacante das guerreiras grenás, Ludmila

Natural de Belo Horizonte, Minas Gerais, sua primeira passagem na Ferroviária foi em 2011 e entre idas e vindas, uma história de superação, onde suas maiores adversárias foram as lesões, mas que não foram suficientes para fazer com que a atacante Ludmila desistisse do seu sonho em jogar futebol.

Sempre apoiada pelos familiares, Ludmila começou a jogar futebol aos 14 anos em uma escolinha de futsal chamada Pet Gol e jogava juntos aos meninos. Aos 16, em 2007, a atacante teve sua primeira oportunidade em uma equipe totalmente feminina. “Foi onde eu joguei meu primeiro Campeonato Mineiro e a primeira competição profissional da minha carreira. Foi muito legal ter esse contato com o profissionalismo e de uma experiência muito boa para mim, que tinha 16 anos e estava começando no futebol”, afirmou.

Na época, de acordo com Ludmila, o apoio da família foi fundamental para ela seguir seu sonho de jogar futebol. “Eles foram essenciais no meu início. Minha mãe sempre meu deu todo suporte. Eu vim de uma família muito humilde e tinha um pouco de dificuldade para ir aos treinos. Meu tio me levava todo dia para treinar, fazia um esforço muito grande. Ele é motorista de ônibus e as vezes até trocava de turno para me acompanhar. Se tivesse alguma dificuldade financeira, ele me ajudava também. Então eu sou muito grata a todos eles que me apoiaram”, falou a atacante.

No ano seguinte, em 2008, pelo campeonato feito no Garra, Ludmila foi para o Atlético Mineiro, onde encontrou uma estrutura melhor para desenvolver seu futebol. “É um clube de camisa, que nos dava muito para trabalhar e eu comecei a passar a treinar diariamente, o que não acontecia no Garra. Foi um período muito bom, onde conquistei meus primeiros títulos, fomos campeãs mineiras em 2008 e 2009 e eu fiquei muito feliz por ter ganhado.”

Em 2010, a mineira de Belo Horizonte vem para São Paulo com destino à Franca, onde ela tem a oportunidade de disputar o Campeonato Paulista, enfrentando grandes forças do futebol feminino. “Sempre foi uma competição que tinha grandes times e enfrentamos a Ferroviária, Botucatu, Jaguariúna, que eram times fortes na época e tinham uma preparação mais forte. Tanto que eu pensei que teria dificuldades em fazer gol, porém, em Franca, eu também melhorei muito minha condição física e técnica. Eu fiz um ano muito bom, com muitos gols e eu acabei ficando surpresa comigo mesma, porque eu realmente não esperava que teria aquele desempenho no meu primeiro ano em São Paulo, longe da família’, contou.

Foi em 2010, também, que Ludmila teve sua primeira oportunidade na Seleção Brasileira. Ela foi convocada para disputar o Mundial Sub-20, na Alemanha. “Foi uma experiência única na minha vida. Ter a oportunidade de vestir a camisa da Seleção em um Mundial, foi uma realização muito grande pra mim. Eu joguei contra a Suécia, entrei no decorrer da partida, fiz gol e fui muito bem. Na partida seguinte, comecei de titular, contra a Nova Zelândia, mas no começo do segundo tempo, tive minha primeira lesão e quebrei a clavícula. Mas, apesar disso tudo e de não termos conseguido a classificação, foi algo incrível que aconteceu na minha vida.”

Em 2011, chega a Ferroviária, uma equipe que Ludmila mirava desde que chegou em São Paulo. “Era um time muito forte e desde então, eu falava que queria jogar aqui, porque era nossa referência e acredito que ainda seja para muitas meninas. E eu acabei recebendo o convite. O Fabrício Maia, que trabalhava na época, junto ao Danilo Zero me chamaram e falaram que queriam contar comigo e eu conhecia a Raquel, que também fez de tudo para que eu viesse para cá e ela sempre falava que eu ia gostar, que a cidade era muito boa e eu acabei aceitando o desafio.”

A chegada em Araraquara foi melhor que o esperado. “Todo mundo me recebeu muito bem aqui. Foi meu primeiro ano aqui e eu gostei muito do clube, da cidade e fui me enturmando com as meninas. Foi uma temporada muito legal e muito produtiva para mim, onde eu cresci muito como profissional”, afirmou Ludmila.

Após o primeiro ano na Ferroviária, a atacante recebeu a proposta de jogar pela primeira vez no exterior, mais especificamente na Coreia do Sul, no Red Angels. “O técnico da Coréia, que jogou o mundial que eu estava, saiu da seleção e assumiu o Red Angels, foi onde ele entrou em contato comigo e disse que tinha me visto jogando na Seleção e queria que eu fosse para lá. As conversas foram evoluindo e eu fui. Também foi outra experiência bacana na minha carreira.”

No país asiático, a atacante passou por um susto muito grande. “Eu acordei e não tinha ninguém na rua. O treino foi cancelado e não falaram o motivo, eu estava em entender nada, porque eu morava com outra brasileira, mas ela estava na seleção e eu fiquei 20 dias sozinha ali no apartamento. Eu sai e fui no mercado, mas não tinha movimento nenhum e notei que todos os mercados estavam fechados. Voltei para casa e mandei mensagem para minha tradutora, perguntando o que estava acontecendo. Ela me falou para não sair de casa, que aquele dia estava marcando ventania e furacão. Anoiteceu e a janela começou a fazer um barulho muito forte de vento, liguei para minha mãe para tentar me acalmar, mas ela também ficou nervosa. Graças a Deus foi só um susto e não aconteceu nada”, contou Ludmila.

Em 2013, a atacante voltou à Ferroviária e depois de ter feito toda a pré-temporada, descobriu uma lesão, novamente na clavícula que a tirou dos gramados. “Eu não queria acreditar. Porque eu fiz toda a preparação e fui passar por uma avaliação médica, porque eu tinha muita dor. E foi constatado que eu tinha quebrado e o doutor na época falou que teria que operar, eu não queria. Ele acabou falando que eu poderia perder o movimento do braço e enfim, acabei operando”, falou.

Ela retornou na reta final do Campeonato Paulista daquele ano e voltou na semifinal da competição. “Eu joguei a semifinal e a final. No primeiro jogo da Final, contra o São José, estávamos perdendo de 1 a 0 e eu tive a felicidade de fazer o gol de empate, que era um bom resultado para o jogo de volta, em Araraquara, onde conseguimos ser campeãs invictas no Paulista e foi um gol muito importante para mim, por estar voltando a jogar e também porque ajudou o time a ser campeão”, afirmou Ludmila.

O ano de 2014 foi marcado por muitas conquistas da Ferroviária, campeã da Copa do Brasil e do Brasileiro, mas iniciava na carreira de Ludmila, um verdadeiro calvário que parecia não ter fim e que quase pôs fim no seu sonho. “Foi um começo de ano muito bom, mas depois que eu me machuquei, foi muito frustrante. Estávamos jogando a Copa do Brasil e no jogo contra São Francisco do Conde, eu tive uma ruptura do ligamento cruzado anterior e foi minha primeira lesão no joelho. Eu nunca tinha lidado com essa situação, mas eu encarei, fiz a cirurgia e fiz o tratamento. No final do ano, em um trabalho de transição, rompi o mesmo ligamento e tive que fazer a segunda cirurgia. Eu comecei a me questionar, não entendia os planos de Deus, mas tive o apoio da minha família. O que me deu forças, foi que fomos campeãs da Copa do Brasil e do Brasileiro e isso me fortaleceu ainda mais para eu trabalhar e poder estar em campo.”

Com a cirurgia no final de 2014, Ludmila perdeu praticamente o ano todo em 2015, inclusive a Libertadores na Colômbia. “Foi o ano que que a Ferroviária conquistou o título e eu pensei ‘poxa, perdi mais uma oportunidade, mas vou deixar nas mãos de Deus e ele sabe o que é melhor para mim’”, falou.

O pensamento em parar de jogar futebol, veio em 2016, quando ela atuava pelo Rio Preto, onde foi campeã Paulista. “Eu rompi novamente o ligamento e ali pensei muito em parar. Minha mãe conversou bastante comigo e falava que não era para eu parar, meus amigos e familiares também me deram muito apoio. Eu fiz a cirurgia, mas não fiquei muito na expectativa de voltar a jogar e fui levando. Mas, depois que comecei o tratamento, o sentimento de querer estar em campo veio muito forte e comecei a levar ainda mais a sério’, relatou Ludmila.

O ano de 2016 também foi um ano de reabilitação para Ludmila, assim como 2017, quando ela retorna à Ferroviária. “A Lorena falou que queria contar comigo no elenco e deu certo que meu fisioterapeuta era o Diego Telarolli, que acabou entrando também na Ferroviária e isso foi muito bom para mim, porque foi ele quem me reabilitou e sabia de todo o processo. Ele conversou com a Lorena e falou que eu estava em perfeitas condições, que eu precisava ganhar um pouco de força e em 2018 eu estaria 100% para ajudar.”

Ela retornou aos campos ainda no final de 2017, quando disputou e foi campeã dos Jogos Abertos do Interior e em 2018, após tantas lutas para voltar, ela teve um ano sem lesões. “Eu fiz uma boa temporada e consegui ajudar com gols e muita entrega naquele ano. Conseguimos chegar às semifinais do Brasileiro e por muito pouco não chegamos à decisão. Não tive nenhum problema de lesão e com tudo isso, tive a oportunidade de ir para a Espanha, no Sporting Huelva e também pude ajudar o clube a conseguir os seus objetivos”, falou a atacante.

No retorno ao Brasil, ela volta novamente à Ferroviária no meio do ano de 2019 e mais uma vez a lesão apareceu em seu caminho. “Eu consegui jogar três jogos pelo Paulista e no jogo contra o Juventus eu fraturei a canela. Ali foi o fim do mundo para mim. Eu fico até emocionada, porque é muito difícil. Mas as meninas sempre me ajudaram, sempre estiveram do meu lado, em todos os momentos e neste não foi diferente. Tive o suporte de todo mundo, o que foi de muita importância para mim.”

Ludmila superou mais uma lesão e no início de 2020, voltou a treinar com bola e junto com as suas companheiras. Ela chegou a ser relacionada para o jogo contra o Corinthians, que acabou não acontecendo devido a paralisação do novo coronavírus. “A gente sabe que é um momento muito delicado e temos que pensar primeiramente na nossa e na saúde de todo mundo. Temos que nos cuidar. Essa parada, acabou sendo boa para mim, porque eu ainda sentia algumas dores e nesse tempo, eu consegui me fortalecer e hoje estou me sentindo mais confiante para quando voltar, poder ajudar a Ferroviária da melhor maneira possível.” Por tudo que passou na sua carreira e todo suporte que já recebeu do clube, Ludmila é muito grata à Ferroviária. “Tem um grande significado em minha vida e na minha carreira. É o clube onde estou passando metade dos meus anos como jogadora e é um lugar que eu amo muito, além de ter uma grande identificação. Já tive oportunidades de jogar em grandes clubes do Brasil, mas o amor e a vontade de defender esse time, é muito maior”, finalizou Ludmila.

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