‘Juro por Deus que, se eu tivesse de canonizar um time de futebol e colocá-lo inteirinho nos altares como exemplo de virtudes, escolheria a Ferroviária de Araraquara sem pestanejar'(…), início da crônica mais emblemática já escrita sobre a Ferroviária, publicada por Lourenço Diaféria na página 2 da Folha de S.Paulo, em 21 de janeiro de 68, em homenagem ao título de campeã do interior.
Trago aqui, num domingo emocionado de estreia, o texto que contornou as lendárias histórias deste time, para ressaltar alguns aspectos importantes do dia de hoje:
O novo uniforme exaltando as voltas ao Mundo
Quando a Ferroviária entrar em campo em Diadema para enfrentar o Água Santa, na Arena Inamar, estaremos vendo o novo uniforme que traz como mote um dos períodos mais gloriosos da equipe: a década de 60. Foi quando o clube excursionou pelo mundo por 3 vezes e colecionou vitórias e placares históricos por onde passou.
Para celebrar grandes feitos dessa geração de ouro, a vestimenta afeana traz inúmeras referências às viagens inesquecíveis por Europa, África e América Central.
Todas as peças do uniforme tem 3 cores: grená, dourado e branco. Cada uma simboliza uma excursão. Os detalhes estão nas mangas, golas, lateral das camisas e calção. A escolha do amarelo se justifica por representar vitórias e conquistas. Achei ótimo!
O 8º Paulistão consecutivo na elite
Esta é a oitava participação consecutiva na primeira divisão do Paulista, sendo que nos últimos 4 anos a Ferroviária chegou 2 vezes às quartas de final: 2019 e 2021. Detalhe: durante todo este tempo a gestão foi de um mesmo presidente, algo inédito.
Sim. É preciso fazer justiça à história e lembrar que Carlos Salmazo foi eleito presidente em 19 de julho de 2014 e, de lá pra cá, a Ferroviária deixou os intermináveis anos de amargura.
À frente do clube, Salmazo contribuiu para sua recondução à primeira divisão do futebol paulista após 19 anos, exatamente no dia 18 de abril de 2015, quando a Ferroviária derrotou o Guaratinguetá por 1 a 0. E, de lá pra cá, não saiu mais da elite.
Houve outros feitos, não menos importantes, como a inclusão, também consecutiva, no calendário brasileiro de futebol, desde 2017, seja na série D ou na Copa do Brasil, bem como o vice e o título da Copa Paulista em 2016 e 2017, respectivamente.
A Ferroviária também alcançou grandes vitórias fora de campo, estreitando sua relação com a Federação Paulista e a CBF. Por diversas vezes, Carlos Salmazo foi convidado a participar de reuniões que deliberavam sobre temas importantes do futebol brasileiro. A Ferroviária também se posicionou em questões importantes da sociedade, sobretudo o combate ao racismo.
Fico muito confortável pra fazer estas observações. Não foram poucas as vezes em que, aqui mesmo neste espaço, critiquei e adotei opiniões antagônicas a do presidente. Também não foram poucas as vezes em que, despi-me da vestimenta jornalística e, apaixonado, juntei-me às discussões sobre os rumos que a Ferroviária deveria adotar.
Um recomeço de esperança
A Ferroviária estreia com uma outra energia neste Paulistão. Há um novo modelo (SAF) e um novo investidor que abraça também as mulheres, tão bem representadas pelas Guerreiras Grenás e seus inúmeros títulos, tendo como exemplo maior o bicampeonato da Libertadores, conquistado também na gestão Salmazo.
Não sei se haverá mudança na presidência com o novo investidor. Imagino que Bertolucci chegue com o time inteiro: presidente, executivo de futebol e tudo mais. Mas Salmazo deve seguir junto à Ferroviária, de alguma forma. Foi o grande estabilizador e condutor esses anos todos. Esta é a minha opinião.
Aproveito para fazer uma menção especial ao Departamento de Marketing, extremamente competente em suas ações.
Quero ainda deixar um relicário neste domingo de estreia: o especial de mais de 20 minutos, que conduzi, em rede nacional, ao lado do Milton Neves, na Rádio Bandeirantes, no dia 17 de fevereiro de 2019.
Na ocasião, em mais uma marca característica de sua gestão, o presidente homenageou o ex-volante Dudu e várias outras lendas da Ferroviária que brilharam nos mágicos anos das excursões à Europa, tão bem retratadas na nova camisa.
Ouça aqui:
Que Simpatia!
O campeonato vai ser extremamente competitivo e os times chamados ‘menores’ podem surpreender. Ontem já tivemos o Santos vencendo o Mirassol nos acréscimos por 2 a 1, em plena Vila Belmiro. O Palmeiras apenas empatou com o São Bento em 0 a 0, no Allianz Parque. O Santo André venceu o Guarani por 1 a 0 em Santo André.
Duas vitórias de times do interior, atuando fora de casa, animam a Ferroviária e o torcedor: o São Bernardo bateu a Inter de Limeira, em Limeira, por 3 a 0 e o Botafogo de Ribeirão Preto venceu, também fora de casa, a Portuguesa por 2 a 0.
Diante deste cenário, valorizando o passado e construindo o futuro, destaco as palavras que ouvi na entrevista coletiva antes da estreia de hoje, do experiente goleiro Saulo, que vai para o 4º Paulistão com o manto grená, e que soam como um mantra locomotivo: ‘Eu voltei não pelo que fiz no passado, mas pelo que podemos fazer daqui pra frente”.
Finalizo este registro como comecei: a crônica do Diaféria. Se serviu a um domingo glorioso em 68, há também de servir a este domingo simpático de 2023:
‘Estamos, portanto, diante de um luminoso domingo, em que uma cidade em festas recebe o justo prêmio de seus esforços, mercê do trabalho inteligente da Ferroviária. Certamente, até em Sá da Bandeira, no fim do mundo de Angola, há gente alegre com a conquista da Ferroviária.’ Que seja uma ótima temporada!