A culpa é nossa, Luciana!

Luciana pediu desculpas em suas redes sociais. A goleira é o símbolo maior do Futebol Feminino da Ferroviária (Reprodução redes sociais/staff_images_woman/criismattos)

Demorei um pouco para escrever sobre a eliminação, nas quartas de final, do Futebol Feminino da Ferroviária na Libertadores da América, com a derrota para o Deportivo Cali – COL por 2 a 1 no último final de semana.

A imagem da Luciana ao final do jogo, flagrada pelas câmeras de tv, mostraram o choro da goleira e um áudio, emocionante: ‘a culpa é minha’. Ao que, prontamente, uma voz imperativa de uma das companheiras que a consolavam entoou: ‘A culpa não é sua’.

A culpa é nossa, Luciana! Do racismo estrutural que permeia nossa sociedade e nossos julgamentos e paixões.

Sim, é verdade que a titular da meta afeana cometeu um erro no gol da virada do time colombiano, aos 43 minutos do segundo tempo e isso atrapalhou nossos planos em busca do tricampeonato continental.

Ferroviária se despediu no último final de semana da Libertadores no Equador (Divulgação)

Mas a vida e a história não se resumem a este lance. Entre idas e vindas, Luciana está na Ferroviária desde 2013, soma cerca de 200 jogos pelo clube e já participou, de forma decisiva, dos títulos da Libertadores (2020), Brasileiro (2014 e 2019), Copa do Brasil (2014) e Paulista (2013).

Além de titular das Guerreiras Grenás, Luciana, de 35 anos, esteve presente nas últimas três convocações da Seleção Brasileira. Luciana é o maior ícone do Futebol Feminino da Ferroviária. E não é exagero dizer que ela representa, para as Guerreiras, aquilo que Bazani representou para o masculino.

Ferroviária contra o racismo. Sempre!

De olho nessa história da Luciana quero dizer que não é de hoje que a Ferroviária vem marcando um gol emblemático fora de campo: a luta contra o racismo. Na última semana a instituição promoveu, em parceria com o Centro Afro de Araraquara, um workshop de formação antirracista.

É bom dizer que a Ferroviária já promoveu e participou de diversas ações contra a discriminação racial. Dessa vez o foco foram os colaboradores do clube, com o workshop intitulado: “Araraquara, morada do sol e não do racismo”, aos funcionários do clube, de todos os departamentos. Quem concedeu a palestra foi a Coordenadora do centro, Alessandra Laurindo.

Funcionários, diretoria e comissão técnica, numa ação intregrada, participaram do workshop (Ferroviária/SAF)

O evento, que durou cerca de uma hora e meia, teve como pauta o racismo na sociedade, passando pela linha do tempo da escravidão no Brasil até chegar nos dias atuais. Foi passado aos participantes do workshop, todos os números de casos de racismo em Araraquara, no Brasil e também voltado apenas ao futebol. Após o término da palestra, houve também um bate-papo, com perguntas e situações passadas pelos funcionários da Ferroviária.

Quero destacar, neste evento, a fala da Janaine Camargo, Supervisora de Futebol Feminino da Ferroviária, que destacou a diversidade dos funcionários do clube e que ela se sente feliz em estar em um local que ela, como mulher preta, é tão bem aceita.

“Aqui na Ferroviária nós temos isso, de ser um clube antirracista e que da oportunidade para todos, sejam eles negros, brancos, árabes e é isso que precisamos mostrar para o mundo. Se conseguirmos fazer um pouco nossa parte, de ter a empatia pelo próximo, vamos crescer muito como instituição, clube e principalmente como pessoa. Agradeço muito em estar em um local onde sou bem vista e orgulho imenso de ser preta e estar em um lugar de expressão que é o futebol, que é o que eu amo”, falou.

 

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